Há um tempo não escrevia neste blog, não por falta de vontade. Algumas vezes abri a caixa de texto e comecei a digitar alguma coisa, mas uma impressão (ou intuição) persistente de banalidade quanto ao que via na tela, levava-me a bruscamente apagar tudo, revoltado com o fracasso em expressar o que carregava aqui dentro. Vergonha, culpa e superficialidade, para citar alguns dos sentimentos que me dominavam, eram os responsáveis pelo desgosto com minhas próprias palavras. Ainda pretendia dar voz a um personagem que já não mais existia, ou que pelo menos esforçava-me sinceramente para destruí-lo. Ele talvez possa ser descrito como um jovem afetado pela melancolia, e que, como Noel Rosa naquela canção, louvava a capacidade da filosofia em fazer-lhe viver indiferente. O apego a essa imagem, que tem um forte apelo estético, ao lado da consciência de como é fútil tal comportamento, faziam-me rejeitar as coisas que escrevia para alimentar o ego do personagem.
De uns tempos para cá está se passando uma grande mudança em mim, a qual já posso sentir correndo em minhas veias. Tenho vontade de viver, e viver com alegria, compartilhando boas coisas com aqueles que me cercam. As correntes do ego adoecido ainda estão presentes, atraindo-me às suas tendências mórbidas: vaidade, egoísmo, sarcasmo, indiferença, etc. Mas sinto-me feliz em perceber que essas coisas estão cedendo lugar a novos valores, que hoje aprecio muito mais e dos quais quero me aproximar. O ego adoecido insiste em olhar com ceticismo para demonstrações de altruísmo, boa-vontade, afeto, bondade, entre outras virtudes, mas isso é reflexo da inveja por não ser capaz de experimentá-las. Hoje em dia (ou desde sempre?) vemos que a vaidade, o egoísmo, o sarcasmo e a indiferença gozam de um status privilegiado na sociedade, e é muito mais fácil ser aceito por ela se tiveres essas características, as quais, segundo seus valores deturpados, passaram a ser virtudes. E eu não quero mais contribuir com isso.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
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