terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Escrever, o número 3

Falando ainda de J.D. Salinger, achei interessante a declaração atribuída a ele, explicando o seu aparente mutismo: "Gosto de escrever e asseguro a vocês que escrevo com regularidade. Mas escrevo para mim mesmo, por prazer. E quero ficar sozinho para escrever". Talvez um dia tenhamos acesso ao tanto que Salinger escreveu, e então saberemos se o escritor de fato merece figurar entre os grandes da literatura, ou se os escritos pós “O apanhador no campo de centeio” são medíocres. Mas isso é o que menos importaria para ele, caso estivesse vivo. Salinger deixa claro que a literatura para ele era uma atividade inerente à sua natureza, quase uma necessidade fisiológica. Podemos fazer essa comparação, pois tais como as outras necessidades dessa ordem, a literatura objetiva expelir as impurezas que do contrário iriam deteriorar o organismo do escritor.

Eu escrevo todos os dias. Grande parte do que produzo – ou melhor, expilo – não tem a menor razão para ser publicado. São frases insensatas, incompletas, e também confissões feitas para o papel – e que em uma reflexão voltam para mim. De outra forma, não teria como me conhecer. E me conheço pouco. Há muito o que escrever. Cada qual tem a sua cota de necessidade.

A imprensa noticiou a frase de Salinger como algo absurdo: como é que pode, o cara escreve e não edita? Que desperdício! Pensam que a literatura é um simples objeto cultural e mercadológico, que “precisa” ser vendida, “precisa” ser exposta aos outros. Hoje em dia vemos muitos livros nas revistarias, – estamos no tempo delas – e isso não é por acaso. Revistarias em geral vendem revistas, não livros. Mesmo quando essas revistas vêm travestidas de livros. Uma revista é um veículo de consumo rápido, trazendo um amontoado de informações e quase nenhum conhecimento. Assim são muitos dos “livros” que elas comercializam. Volumes fabricados oportunisticamente, de acordo com a onda do momento. Obama e Lula são os caras? Vamos lançar biografias e mais biografias deles, mesmo que suas vidas não pareçam estar perto do fim! Antigamente os biografados ou narravam sua própria história quando sentiam sua vida útil se esvair, ou eram resgatados pelos biógrafos após a sua morte – quando se poderia ter maior noção da importância histórica daquele indivíduo.

Estou fugindo do assunto. Isso é normal, não faço de propósito. Conforme escrevo, as idéias aparecem, e vão ganhando contorno. Talvez um dia eu consiga começar um texto sabendo como ele vai terminar. Mas por ora minhas idéias estão um tanto embaralhadas, e escrevo justamente para organizá-las melhor. Então peço que não reparem na incoerência dessas palavras. O recinto está em obras.

P.S.: genial esse título, hein? hehe

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